Doce lembrança

Toda vez que alguém fala em infância a primeira coisa que eu penso é em batom. Não, não é o cosmético feminino. Eu nunca fui muito chegada nisso. Digo o batom de chocolate. Aliás, esse chocolate é uma das poucas lembranças da minha infância.

Eu lembro que quando eu era pequena, meu pai, me levava por um trilho no mato que tinha entre a minha casa e um barzinho para comprar o tal batom. Ele comprava, me levava embora e voltava para jogar cartas. Era quase um ritual, e eu gostava muito daquilo. Hoje, toda vez que eu vejo esse chocolate em algum lugar lembro disso. E apesar de doer um pouco, eu gosto dessa lembrança, já que é uma das únicas que tenho do meu pai.

Lembro também que certa tarde ele foi me levar na creche. Eu adorava ir para a creche, mas lembro que naquele dia eu chorei muito, e põe muito nisso. Quando ele já estava na estrada indo trabalhar ele se virou, olhou para mim e acenou, tirou o chapéu para mim e eu só me lembro de vê-lo sumir.

No mais, só me lembro da minha mãe chegando do hospital dizendo que meu pai tinha falecido. Lembro até hoje do rosto da minha mãe, do choro dos meus irmãos e como se olhasse de fora, lembro da ausência de movimentos no meu corpo. Do meu rosto sem expressão. O meu pai, o meu herói tinha ido embora e eu tinha cinco nos.

Minha última lembrança dele? Minha mãe me pegando no colo no velório e me dizendo para dar tchau para o papai que ele tinha que ir.

Acho que a minha infância acabou ali e as lembranças das tardes de domingo jogando bola com as amiguinhas e outras mais são só uma forma de eu não me sentir tão sem infância.

Espero que de onde ele esteja, esteja orgulhoso de mim. Assim, tudo terá valido a pena.