Não sei ao certo a idade que eu
tinha, mas era no tempo em que eu adorava ajudar a minha mãe a fazer bolo. Há
muito tempo.
Minha mãe preparava uma afro
descente esquizofrênica, popularmente conhecida como nega maluca, e pediu que
eu untasse a forma. Fui até o fogão, peguei as formas e as engraxei como eu
costumava dizer. O fogão era daqueles antigos. Duas portas, uma onde se
guardava as formas na parte debaixo, e duas asinhas do lado, quem já teve ou
conhece alguém que ainda tem sabe como é. Moderníssimo e azul, para combinar
com a geladeira vermelha.
Formas engraxadas e nega maluca
pronta, hora de colocar no forno. Ao fazer isso minha mãe percebeu que tinha
algo estranho dentro do fogão engalhado na grade por onde saia o fogo, mas achou
que fosse uma lagartixa e acreditando que ela logo sairia dali por causa do
calor, não deu bola.
Passado alguns minutos um cheiro
forte tomou conta da cozinha. Pensando que era a pobre afro torrando, minha mãe
foi ver o bolo. Ao reparar que a culpa não era da nega, e sim da suposta
lagartixa, que ainda não tinha fugido, minha mãe pegou uma faca e começou a
raspar a suposta lagartixa a fim de fazê-la cair. Nada!
Sem sucesso, minha mãe decidiu
abrir a porta debaixo, onde ficavam as formas. Então, uma surpresa. Uma cobra!
Não preciso dizer porque não tem foto de cobra no post né? |
Literalmente com fogo no facho, a
bichana não parava quieta. Depois do susto inicial, minha mãe super poderosa
pegou uma vassoura e acabou com a raça da bicha. Para que ninguém duvidasse que
tinha uma cobra no nosso fogão, minha mãe ainda se deu ao trabalho de colocar a
bicha dentro de uma forma e levou para o vizinho - conhecedor de cobras diz ela
-. Era só uma jararaca.
Depois daquele dia, antes de
tomar banho, dormir, sentar e coisas do tipo, eu fazia uma varredura. Demorou
pra eu me convencer de que não iria acontecer de novo. E essa é a história de
como eu adquiri um medo fora do normal de cobras. Desde então eu evito andar no
meio do mato e não vejo fotos ou vídeos em que as danadas apareçam, pelo menos
não por vontade própria. Mas sempre tem um filho de uma boa mãe que insisti em
me assustar com isso.
Não pensem que é frescura. Sério,
é apavorante e não tem graça. Eu costumo rir depois que alguém me assusta por
causa disso, mas o riso não é de graça, é de nervoso. Vou parar por aqui porque
já está me dando um formigamento no pé.