Com algumas exceções, é sempre muito bom lembrar a infância, pelo menos para mim. Sempre que paro para pensar me divirto muito. Mas nem tudo na vida é moranguinho. Apesar de hoje achar graça, quando eu era criança algumas coisas não foram tão engraçadas. Como o dia em que eu caí (ou pulei, sei lá) de um ônibus.
Assim que completei o primário fui estudar em um colégio no centro da cidade e, como de acordo com a minha mãe, eu ainda era muito pequena, não podia fazer o trajeto sozinha e nem a pé. Passei então a ir ao colégio de ônibus. Não um ônibus fretado especificamente para transporte escolar. Era um circular. Ou seja, eu dava várias voltas na cidade antes de chegar e ao sair do colégio. Para mim era quase uma aventura, e a sensação de vivenciá-la diariamente fazia com que eu fizesse de tudo para passar o máximo de tempo possível dentro do ônibus. Muitas vezes eu passava na frente da entrada para a minha casa e ia descer só no outro ponto para ter o gosto de andar pelo bairro de ônibus. Coisa de criança. Até que um dia eu parei com isso. Decidi que não ia mais me aventurar pelo bairro e ia ficar o menor tempo possível dentro do ônibus.
Como todas as outras crianças que utilizavam o ônibus eu ia para a frente da porta correndo, para ser a primeira a descer. Alguns até arriscavam pular com o ônibus em movimento. Não era o meu caso, até aquele dia. Assim que estava próxima do meu ponto alternativo, já que o meu tinha ficado para trás, me posicionei antes de todos os outros junto à frente da porta. Por algum motivo, o motorista havia deixado a porta aberta. Fiquei ali, praticamente pendurada na porta com um monte de criança colada atrás de mim, quando, do nada, a porta começou a se fechar.
Fuscas brancos ainda me abalam. |
"A mãe vai me matarrrrrrrr!" |
Para mim, o pior ainda estava por vir. Como é que eu iria explicar isso para a minha mãe, sendo que ela já tinha me chamado a atenção sobre minhas voltinhas a mais de ônibus?
Decidi não contar e expliquei o rasgo na calça e o machucado no joelho como um tombo na escola. Quanta inocência! Até parece que ninguém ia comentar com ela o ocorrido. Se não bastasse o que eu já tinha passado, levei um tremendo sermão da minha mãe. No ano seguinte passei a ir para o colégio a pé, e não foi porque ela já me achava adulta o suficiente para isso.